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Bibi Ferreira conta na TV Brasil os segredos de uma carreira de 76 anos

Brasília

Da Agência Brasil *

Ao falar para o programa Conversa com Roseann Kennedy, Bibi Ferreira abriu seu coração e contou segredos que a fazem um mito dos palcos brasileiros e um grande sucesso, após 76 anos de carreira.   Por exemplo, a identidade entre Bibi e seu público vem de uma receita simples, que pôs em prática durante todo esse tempo: “Eu não canto o que mais gosto. Eu nunca penso com o que eu quero. A plateia é a gosta, a quer e a que deseja”, revelou.

E para continuar com essa voz possante e limpa aos 95 anos de idade, Bibi também contou outro segredo que abre agora para o público: “O café com uma pitadinha de manteiga. Quando a manteiga derreter, é sinal que já tá bom pra tomar. A manteiga é pra azeitar as cordas”, conta Bibi, artista admirada por astros mundiais como Liza Minnelli, que ficou sua amiga e subiu ao palco de um show seu para homenageá-la.

Atualmente, Bibi Ferreira está em turnê com dois shows: Bibi canta Sinatra, interpretando o repertório de Frank Sinatra; e 4X Bibi, com músicas de Edith Piaf, Amália Rodrigues, Carlos Gardel e Frank Sinatra. Leia abaixo alguns trechos da entrevista, que vai ao ar na TV Brasil, às 21h30 e que pode ser assistida depois no site do Conversa com Roseann Kennedy.
Roseann – Como é que foi a seleção das músicas [para o show 4X Bibi]?

Bibi – Isso é uma coisa que sai muito natural. Por exemplo, vai cantar o quê de Amália? Canta a música que você mais canta. Qual é? Perseguição. E vai assim apurando o repertório, vai juntando e com isso forma o show.

Roseann – As músicas que a senhora canta no show são as que mais gosta ou tem muitas que queria ter colocado?

Bibi – Não são as que eu mais gosto, não. Eu nunca penso com o que eu quero, eu gosto, eu vou. Eu tenho que pensar sempre em relação à plateia. A plateia é a que gosta, a que quer e a que deseja.

(…)

Roseann – Amália Rodrigues um dia disse que, se alguém fosse interpretá-la, seria a senhora. Eu pergunto: quem poderia interpretar a senhora?

Bibi – Eu? Sei lá. Não estou muito a par das pessoas que cantam hoje em dia. Mas tem muitas moças com talento, com grande voz.

Roseann – A senhora gostaria de se ver interpretada no palco?

Bibi – Gostaria.

Roseann – Se fosse um show sobre a senhora, quais seriam as principais canções?

Bibi – As músicas americanas dos filmes. Essas músicas que o povo realmente lembra e gosta. Músicas populares dos filmes americanos que transportaram para uma tecitura bem-feita e fácil, e aí todos nós cantamos isso com facilidade.

(…)

Roseann – Cantar não é fácil não!

Bibi – Cantar, depende. Tem músicas que são boas pra você e têm músicas que você não deve nem pensar em cantar. Mas, a maioria, eu tenho muito tempo para ensaiar, graças a Deus, muito tempo para escolher, e tenho tido muita recompensa naquilo que eu canto. Quanto eu estive agora em Nova York, quando cantei Ol’ Man River, eu fui ‘‘bisada’’. Eu nunca recebi uma ovação daquela maneira. Eu pensei que estavam me debochando, porque não paravam de bater palma, não paravam de bater. Eu agradecendo de um lado, agradecendo do outro, agradecendo no meio, agradecendo de um lado…. E pensei: ai, meu Deus, estão me gozando. De tamanho sucesso que fez essa canção na minha boca.

Roseann – Por falar em Nova York, a senhora já foi homenageada por Liza Minnelli, que fez questão de subir ao palco.

Bibi – Foi. Ela gosta muito de mim, minha amiga. Me telefonou para desejar felicidades no show. É muito boa gente. É que a Liza Minnelli tinha a mãe dela, a Judy Garland. E a Judy Garland é parecidíssima comigo e eu com ela. Mesma altura. E isso trazia a Lisa muito pra mim. A mãe dela tinha falecido há muito tempo. E ela me abraçava e me beijava como se estivesse beijando e abraçando a mãe.

(…)

Roseann – Essas cantoras cantam muitas dores de amor. Como é o amor para a senhora?

Bibi – O amor é tudo. Se não houver amor não há nada. Você estar aqui é um ato de amor, é um ato de bondade, é um ato de querer ouvir um pouco as coisas da minha alma. É um ato de amor o que nós estamos cometendo aqui.

Roseann – E o que é arte pra senhora, em termos de vida mesmo? Porque a sua vida é no palco, a senhora nasceu no palco.

Bibi – Desde que eu nasci, eu não me lembro fora do espetáculo. Me lembro que sempre estive dentro do teatro. Sempre, por toda a minha vida. Desde pequenininha, eu trabalhava com a minha mãe na companhia Velasco de revista, uma companhia espanhola. Eu era uma espécie assim de atração, porque naquela época podiam representar no palco depois das oito horas da noite; hoje em dia já não podem. Mas eu trabalhava lá e era muito feliz. Fazia um grande sucesso.

(…)

Roseann – Como é sua rotina de ensaios?

Bibi – É grande. Primeiro que, quando eu vou ensaiar ou cantar, eu não faço a coisa mais criminosa, que é o que estamos fazendo aqui: falar, falar, falar. Isso é muito mal para o canto. Eu evito falar no dia que vou cantar profissionalmente.

Roseann – E a senhora tem outros segredos para manter a voz?

Bibi – Isso não existe. Manter a voz é uma questão de saúde, de respeito à saúde e de se comportar devidamente. Quer dizer, não falar muito alto, não tomar muito álcool, não dormir de menos, dormir o máximo que puder. Porque, quando você dorme, você vai toda embora. Então é importante que você guarde tudo isso pra quando estiver no palco.

Roseann – Explica pra gente a técnica de tomar café com manteiga pra cantar.

Bibi – Isso é no show. Você está para entrar no palco, você segura uma xícara de café e dentro tem uma pitada de manteiga. Quando eu vou entrar…. [faz o gesto de beber o café]

Roseann – Qual é o efeito exatamente?

Bibi – Café já é um incentivador da cultura [risos]. O café sempre tomei. Só que, depois que eu descobri que Caruso fazia isso, eu consegui fazer também. O café com uma pitadinha de manteiga, quando a manteiga derreter é sinal que já tá bom pra tomar. Você vai e toma seu cafezinho. A manteiga é pra azeitar as cordas.

(…)

Roseann – Piaf. É quem a senhora realmente leva na carreira?

Bibi – Piaf vem de uma peça que fiz, que fez muito sucesso, ficou muitos anos em cena. E daí surgiu a ideia de fazer o show.

Roseann – Agora, mesmo quando a senhora está em algum show que não canta Piaf no repertório original, sempre pedem para a senhora cantar Piaf.

Bibi – É essa uma coisa que dá vontade de rir. Outro dia, eu já tinha feito todo o show da Amália, estava na última canção, tem uma pausa pequeninha para entrar no outro verso, pra quê? Eu dei a pausa e entrou uma que gritou: canta Piaf! Ainda bem que os músicos sabem tudo e conhecem Piaf também.

Roseann – Piaf vai acompanhar a senhora sempre.

Bibi – Ah vai. Pro resto da vida!

* Colaborou a apresentadora Roseann Kennedy