Herdado por José Hilton, bloco já coleciona 50 anos de histórias
por Júlya Rocha – Agência Alagoas
(Bloco Bonecos da Cidade acumula quase 50 anos de história no Carnaval de Maceió – Foto: Ascom Secult)
Já foi dada a largada para a época mais divertida do ano. É Carnaval! Seja nas ruas do histórico bairro do Jaraguá, ou em outros espalhados por aí, os blocos de rua são responsáveis, muitas vezes, não só por arrastar multidões, mas também uma boa história que merece ser contada.
Dentre os muitos blocos tradicionais do Estado, o “Bonecos da Cidade” encarrega os seus oito personagens por manter uma tradição. Fundado há mais ou menos 50 anos, foi das mãos de Manoel Feitosa Neto, Mestre Netinho, o primeiro bonequeiro de Alagoas, que essa história tomou forma.
“Meu pai era apaixonado pelo carnaval, e eu, desde pequeno, acompanhei esse sentimento. Um certo dia, em um desses carnavais, meu pai teve a ideia de fazer uma boneca com mais ou menos 3 metros de altura feita de papel machê, que ganhou o nome de Chandoquinha. Nesse período choveu muito, mas, mesmo assim, a boneca, junto a um pequeno número de pessoas, saiu no carnaval, mas só um único dia, pois aconteceu um acidente onde o encarregado de levar a boneca caiu dentro de um bueiro, acabando com a festa”, conta o filho de Mestre Netinho, José Hilton Feitosa, conhecido como “Prego”.
A boneca, que teve um final não muito feliz, logo deu origem a outras ideias. “No ano seguinte, meu pai decidiu fazer uma escola de samba mirim. Essa escola de samba foi pensada para sair nos bairros, que não eram muito animados no carnaval, porém, no meio da folia, um motorista desgovernado invadiu nosso espaço atropelando algumas pessoas”.
O carnaval da família de Seu Prego, mesmo parecendo ter um trajetória trágica, teve um desfecho inesperado. “Um ano após o ocorrido, meu pai fez mais 4 bonecos, que originou o bloco Bonecos da Cidade. Dona Xuxa, Dona Filó, Zé Bonito e Zé lindo, eram quatro personagens criados por nós. A intenção era apenas brincar, não havia músicos nem instrumentos, nós mesmos cantávamos e o pessoal acompanhava. Logo depois fomos convidados a participar do carnaval de rua. Pedi então para o meu pai juntar um dinheiro para que pudéssemos contratar alguns músicos e assim ele fez. Contratamos dois músicos. Foi um sucesso!”.
Passado um tempo, o bloco ganhou mais quatro integrantes. “Seu Cachaça, Dona Cultura, Tico e Teco depois vieram para completar o time. Também participamos do concurso de Blocos de Frevo e ganhamos. Fizemos história”.
Com aproximadamente 50 anos de história, o bloco sai todos os anos nas ruas do bairro Ponta da Terra. “Foi graças ao meu pai que tive essa afinidade com o carnaval, ele quem me ensinou ‘pra fazer carnaval, tem que gostar!’, e percebo isso todos os dias”, encerra Seu Prego, também presidente da Liga Carnavalesca, que mantém viva a tradição do bloco de sua família.
Com o apoio do Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura, o bloco voltou às ruas do bairro da Pajuçara no ano passado, durante as comemorações do Bicentenário de Emancipação Política de Alagoas. Em parceria com a Liga Carnavalesca de Maceió, a Secult promoveu a realização de blocos, escolas de samba, festas pré-carnavalescas e carnavalescas.
“Demos o pontapé para a reestruturação desse bloco tão familiar e tradicional, que já faz parte da história do bairro. Nosso objetivo é apoiar na consolidação e crescimento do bloco que movimenta toda a comunidade e promove o desenvolvimento cultural e econômico”, afirmou a secretária de estado da Cultura, Mellina Freitas.