Redação A Hora News
Em entrevista exclusiva ao A Hora News, a psicóloga Marisa Lobo falou sobre o crescente número de casos de suicídio no Brasil, principalmente entre evangélicos diante de relatos cada vez mais recentes e numerosos de homens e mulheres de Deus que resolveram tirar sua vida.
Marisa Lobo, como psicóloga e cristã, mostra a importância de falar sobre o assunto sem glamour, para não incentivar novos casos. Ela também comenta a importância da fé na redução dos números de mortes por suicídio e sobre a forma como as igrejas precisam tratar os casos de depressão.
Especialista no assunto, a profissional se prepara para lançar três livros sobre depressão e suicídio e uma série de dez livretos relacionados a saúde mental. Confira a entrevista na íntegra:
A Hora News: Recentemente uma reportagem do o jornal Gazeta do Povo mostrou um estudo da Universidade de Michigan publicado no The Journal of Health and Social Behavior dizendo que a religiosidade é um fator de redução nas taxas de suicídio, principalmente na América Latina. A senhora concorda que a fé pode ajudar a reduzir os casos?
Marisa Lobo: Com certeza, a ciência provou e prova a todo instante como a Fé é um fator positivo, na prevenção, pósvenção e no risco real de suicídio. A fé gera esperança, e a esperança é a fé em algo que não se vê, mas se espera. A Fé pode ajudar muito na diminuição de novos casos principalmente em casos associados a depressão, há um outro estudo publicado no Journal of Adolescent Health, em 2005, demonstrou o seguinte: indivíduos que relatam ter uma religião e frequentam serviços religiosos, apresentam menos depressão e menos comportamentos de risco à saúde, como consumo de substâncias ilícitas, que podem levar ao suicídio. Tais estudos entendem que a religiosidade promove a resiliência, ou seja, capacidade de lidar com situações adversas e hábitos de vida mais seguros, o que interfere positivamente na saúde mental da pessoa.
A Hora News: Como explicar esse aumento de mortes no meio evangélico?
Marisa Lobo: Creio que a explicação seria a falta de entendimento de que a depressão é uma doença, essa ignorância impede a pessoa de buscar ajuda e viver escondida com medo de ser acusada de pecadora, muitos sofrem em silêncio e não buscam ajuda médica por preconceito. Essa falta de conhecimento científico gera tabus e esses tabus condenam as pessoas a escuridão. Preferem sofrer em silêncio até que o pior acontece.
A Hora News: O suicídio está associado à depressão. Como as igrejas podem ajudar as pessoas que estão sofrendo com esta doença?
Marisa Lobo: Na maioria da veze sim, mas não é a única associação, pode estar ligado há vários fatores, sociais, culturais, familiares, uso de drogas, transtornos psiquiátricos como a depressão, transtorno borderline são os mais comuns e até mesmo em religiosos.
A igreja pode ajudar acolhendo e não julgando. Como psicóloga e cristã, conhecedora da ciência e da palavra de Deus, posso dizer que o povo sofre por falta de conhecimento. A igreja pode ajudar eliminando os tabus e entendendo que a depressão que leva ao suicídio é grave, é doença e deve ser tratada como tal.
O pecado pode levar a depressão situacional, mas a depressão patológica, pode ser genética, consequência de desequilíbrio químico. Pouco importa os porquês da depressão, o que importa é que ela está aí e tem que ser tratada como doença e não frescura. Se a igreja entender isso, já está ajudando muito, pois pode salvar vida, encaminhando para um psiquiatra e ou psicólogo, além do tratamento espiritual que é fundamental. Jesus cura, sara e liberta, e muitas vezes usa médicos, psicólogos e medicamentos.
A Hora News: A falta de estímulo para que os acometidos pela depressão procurem ajuda é uma das principais queixas de religiosos que ouvem falar que a depressão “é falta de Deus”. Como mudar este entendimento?
Marisa Lobo: Realmente é falta de Deus e de conhecimento de quem faz essa acusação. É essa ignorância que temos que eliminar do nosso meio, há vários tipos de depressão e várias intensidades. Mais de 300 milhões de pessoas no mundo vivem com depressão, segundo a Organização Mundial de Saúde. Depressão é a doença psiquiátrica considerada um dos principais males do século XXI, caracterizada por uma tristeza crônica e profunda, a patologia é silenciosa e, muitas vezes, incompreendida, principalmente por aqueles que deveriam cuidar, acolher e não julgar. É fácil dizer que é falta de Deus, isso alivia a culpa daqueles que não tem amor ao próximo e são alheios a dor do outro.
O que falar então do profeta Eias que tanto amava Deus, era poderoso, e mesmo assim teve medo e depressão? Analisando os comportamentos e sintomas, o que Elias teve foi sim, uma depressão talvez por excesso de trabalho ministerial, ou seja uma depressão por exaustão que podemos encaixar como síndrome de Burnout por exemplo, ou depressão situacional.
Como Deus tratou Elias? julgando ofendendo, dizendo que o que ele tinha era pecado ou falta de Deus? Não! Deus o tratou como amor, carinho, respeito, alimento, acolhimento, desabafo e conversas. É dessa forma que a igreja deve encarar o depressivo. Se a depressão foi decorrente de um pecado (o que não é descartável ), ou se pode ser doença , pode ser genético, pode ser químico, degeneração cerebral, a ignorância está matando pessoas e condenando-as a morte em vida.
A Hora News: Ouvimos falar que a divulgação dos casos de suicídio estimula outras pessoas a praticarem o ato. A série “13 Reasons Why”, da Netflix, está sendo associada ao aumento de mortes por suicídio entre jovens nos Estados Unidos. Como podemos falar sobre o assunto sem estimular a prática?
Marisa Lobo: Não podemos glamourizar o suicido ou responsabilizar as pessoas ou situações. É simplista demais falar em “causa e efeito”, não podemos romantizar o suicídio, não é um ato heroico, herói mesmo é viver, lutar pela vida e ajudar pessoas a terem amor pela vida. Temos que fazer rodas de conversa, ouvir mais os jovens e qualquer pessoas com respeito aos seus sentimentos, que em muitas vezes não compreendemos pois é difícil entender, o que não sentimos. Temos que falar, deixar as pessoas falar sobre suas dores sem julgar e Incentivar as pessoas a buscar atendimento médico.
A Hora News: A senhora relevou que está para lançar livros sobre o assunto. Pode nos adiantar o que será tratado nessas obras?
Marisa Lobo: Serão três livros sobre depressão e suicídio e 10 livretos sobre saúde mental.
“Superação” é um livro onde ensino como superar a ansiedade, depressão e prevenir o suicídio. É um livro de dicas e conselhos para minimizar os risco e prevenir a depressão, este livro será lançado em Miami e Orlando -Flórida/USA , nos dias 27 e 28 de maio, durante palestras que darei em conselhos de pastores sobre depressão e suicido.
Pela editora VEM, será lançado no próximo semestre a obra “Pastores também choram”, um livro direcionado para líderes religiosos, nele explico sobre transtornos psicológicos que podem levar a depressão e ao suicídio, não desculpando, mas procurando ensinar cientificamente, e também apresento métodos de prevenção e pósvenção, a fim de discutir e diminuir os riscos.
E pela editora Central Gospel, do pastor Silas Malafaia, lançaremos uma série de transtornos psicológicos, entre eles, sobre depressão, suicídio, ansiedade, síndrome de Burnout, autoestima da criança, transtornos psicológicos infantis entre outros. Serão 10 títulos , os primeiros 5 já serão lançados no começo do segundo semestre.